2.13.2014

SENSIBLE SOCCERS - 8 (2014, PAD)


Título: 8 / Edição: Fevereiro de 2014, PAD / 8.7/10 | EG

Nas alturas em que o material informático circulava maioritariamente através de uma coisa chamada disquete, fez-se nascer um jogo que iria, a seu tempo, marcar uma geração: o Sensible Soccer. Como tudo na vida se resume a um ciclo, o tempo também tratou de pôr fim à glória daquele que foi um dos primeiros simuladores futebolísticos de todos os tempos. Após aproximadamente duas décadas da extinção de Sensible Soccer, nasciam os nortenhos Sensible Soccers, através da edição de um EP homónimo.

Rapidamente se deu a sua apreciação, em boa parte devido à maneira assinalável como se conciliavam guitarras, teclados e panóplias electrónicas. De imediato se ergueram clássicos, como “Fernanda” ou “Missé-Missé”. Não tão instantânea foi a celebração de “Twin Turbo”, tema escolhido pelas gentes de Cristiano Ronaldo como OST do vídeo de agradecimento aos fãs do craque madeirense pela sua conquista da bola d’ouro. Depois da edição do EP de estreia, em 2011, os Sensible Soccers apenas lançaram um single, “Sofrendo por Você”, já no decorrer do ano passado. Seria legítimo esperarmos uns Sensible Soccers próximos da linha sonora de “Sofrendo Por Você”, que nos demonstrava a sua capacidade em fazer a festa sozinhos através do uso e abuso (no bom sentido) de sintetizadores, de um groove estrondoso e da irreversível vontade mútua (quer de quem a ouvisse, quer dos próprios Sensible Soccers) em passar do lugar e da forma em que os ouvíssemos para uma pista de dança.

8 marca a estreia dos portuenses nos registos de longa-duração e contrariamente ao que era expectável, não segue de um modo nítido a linhagem que se rabiscou em nenhum dos seus registos anteriores, marcando, por isso, uma reinvenção sem que se fale necessariamente em reinvenção; os sintetizadores continuam a ter um papel preponderante na génese sonora, bem como a restante vertente electrónica, mas as guitarras ganham uma ênfase peculiar, como ainda não tínhamos visto em nenhum disco dos Sensible Soccers. É usual e irremediável falarmos da importância do dedilhar da guitarra de Vini Reilly, mentor dos The Durutti Column, factor que também tem vindo a ser aproveitado por Miguel Nicolau, guitarrista dos Memória de Peixe. É notório o pesar da arte de tocar guitarra que marcou o movimento post-punk, mas também é verdade que a estética das canções dos Sensible Soccers não deixam que nenhum dos seus principais moldes sobressaia em demasia: ainda bem.

Os sintetizadores são os agentes responsáveis pela aclimação aos novos Sensible Soccers, sendo os maiores responsáveis pelas primeiras duas canções do disco. “AFG”, terceira peça de 8, trata de brotar a guitarra para primeiro plano e é basicamente a partir desse momento que começa o vendaval de futebol dos Sensible Soccers. O modo como “AFG” se constrói ao longo do seu decorrer é genial: guitarras primordialmente atmosféricas que se vão transformando com o tempo, e distorção, em guitarras barulhentas e que nos vão despertando uma vontade incrível de dançar, tal como nos tinha acontecido “Sofrendo por Você”. É oficial: “AFG” é “Sofrendo por Você”, de 2014; encontrámos o “x”.

O disco segue quase sempre a mesma filosofia, sobretudo no seu primeiro quarteto de canções: momentos de tristeza marcados pelos, sobretudo, pelos sintetizadores a contrabalançarem com a alegria efusiva que a guitarra vais mostrando sempre que é chamada para aparecer em primeiro plano. A sua segunda parte, tal como num jogo de futebol que esteja decidido ao intervalo (sim, porque a primeira parte de 8 é partir para o intervalo com uma larga vantagem), resume-se a segurar a vitória que já estava carimbada ao intervalo; existe por lá uma maior monotonia e uma maior sintonia entre cada um dos seus momentos, o que faz de 8 um disco mais coeso, mas menos vibrante, mas que simultaneamente nos dá o lembrete de que os portuenses são bons quer no seu processo mais ofensivo e livre, quer no seu processo mais táctico e é extremamente raro encontramos algo assim, tendo como referencial uma banda ou uma própria equipa de futebol.


Há um mês atrás, no âmbito da lista das melhores canções nacionais e a propósito de “Sofrendo por Você”, tinha referido os Sensible Soccers como um dos nomes nacionais que mais tinham potencial para a tão falado internacionalização que falta à música nacional. Com a edição de 8, tenho de voltar a referi-lo: está aqui um disco tremendo e passados dois meses do início do ano é bom que se mentalizem que vão encontrar poucos discos nos próximos dez meses com esta qualidade. Ainda assim, caso essa internacionalização não chegue (e o Cristiano Ronaldo bem tenta ajudar) não temos porque ficar tristes; afinal quem não gosta de ver um jogador de classe mundial no campeonato português? Os Sensibe Soccers são cada vez mais um desses jogadores. 

2.07.2014

LISTAS DE 2013 (MELHORES ÁLBUNS INTERNACIONAIS, NACIONAIS E CANÇÕES DO ANO)

OS 15 MELHORES ÁLBUNS INTERNACIONAIS DE 2013


     1.       JAMES BLAKE, Overgrown (Atlas Records)


James Blake é o detentor do título “álbum de 2013”. Tem sido incrível acompanhar a ascensão deste rapaz, que culmina, para já, na sua obra-prima. E custa-me mesmo acreditar que vá, e não consigo mesmo imaginá-lo a, superar este Overgrown. Conheci-o na altura do seu primeiro álbum com o overplay na rádio da um pouco irritante e aborrecida “Limit to Your Love”, e um tempo depois fui ouvir os EP’s que ele tinha lançado. Há vida alienígena em Klavierwerke, um lançamento absolutamente incrível. E o que dizer da “CYMK”? Uma música house (future garage) que teve direito a cover de uma banda de jazz. Um pequeno génio estava em ascensão e maximiza o seu potencial e consegue unir tudo o que de bom e variado tem o seu percurso musical: desde a delicadeza de “Tell Her Safe até à produção fantástica,  épica e monstruosa no build up e drop da “I Never Learnt to Share”, passando ainda pela máquina de dança futurística chamada “CYMK” e, ainda, pela bela da intimidade que demonstra na “Lindesfarne II” ou na “Wilhelm Scream”. Em Overgrown, James Blake consegue juntar tudo isto da forma mais coesa e – nem devia ser preciso dizer este adjectivo - original que poderão imaginar. É uma autêntica bomba, perfeito do início ao fim. I am sold. LMV
    
      2.       KANYE WEST, Yeezus (Def Jam Records)

E o que dizer do álbum de hip hop mais forward thinking, inovador, diferente, viciante e assombroso que saiu este ano? Uma autêntica surpresa que me fez passar a adorarKanye West de um dia para o outro, metendo-me a fazer repeat durante dias com este disco quase perfeito, com o ambiente mais incrível e produção estupidamente abrasiva. Totalmente inesperado vindo de um dos nomes mais conhecidos da música actual. Há certos nomes que mesmo os vossos pais e tios conhecem, diga-se U2, Coldplay, Muse,Justin Bieber... Kanye West. E é este último o único que tem coragem de lançar um álbum assim, um potencial falhanço comercial, um atentado a tudo o que a rádio gosta de passar. Isto do alto da sua fama e irreverência, para todos os seus fãs old-school de hip-hop que acham que ele agora é uma merda, e também para todos aqueles que o achavam uma merda e que agora percebem que é um dos maiores artistas da actualidade. Tipo eu. Mentalizem-se: ele é arrogante e egocêntrico porque pode e merece. Ou deveria ter escrito Ele? LMV
     
      3.       DEATH GRIPS, Government Plates (Third Worlds) 


A qualidade das métricas asseguram que o flow de MC Ride é, absolutamente, vertiginoso e medonho e que é, sobretudo, no espectro social e político da sociedade que mais existe inspiração para a escrita das sus canções. As batidas de Zach Hill explicam o porquê de ser um dos melhores bateristas de sempre da noise rock/math rock, onde figurou em nomes como Hella. Quanto a Flatlander, o responsável pelos teclados e sintetizadores, o triunfo de Government Plates é sobretudo o seu triunfo: nota-se que a sua importância na génese musical foi maior do que na primeira mixtape do trio, do que em The Money Store ou que em No Love Deep Web – trabalho da banda em que esta seguiu mais a sua linhagem. No fim de contas, o que aqui existe é uma obra-prima como já não tínhamos há algum tempo. Government Plates é um álbum perfeito. EG

     4.      FOREST SWORDS, Engravings (Tri Angle Records)

Diz-se que a recente passagem de Forrest Swords, aka Mathew Barnes, por terras do Minho, no âmbito da edição deste ano do festival Semibreve, foi curta: entende-se, quarenta minutos de concerto quando se trata do nome que, muito possivelmente, atraiu e captou mais a atenção dos melómanos que por lá passaram sabem sempre a pouco por muito que o factor qualidade lá esteja. Engravings, disco que Forest Swords editou já este ano, pode ser visto como, e em jeito de analogia à sua passagem por Braga, uma demonstração de que não é preciso abusar do factor tempo para que se consiga ter uma viagem profunda e extensa pelos mundos electrónicos que mais se esquivam do conceito de música electrónica; poderá soar paradoxal, é-o na verdade: mesclar uma porrada de snares e claps com trabalhos e ambiências de guitarras ou de batidas mais tradicionais é como estabelecer uma ponte para os caminhos electrónicos e depois desfazê-la. Conclusão: fica-se no meio termo, ainda bem; de uma dezena de canções, todas elas de qualidade admirável, se faz um álbum tremendo e se dá a prova que para chegar longe não é preciso muito – basta só que nos deixemos levar por esta brisa que passa por nós que é Engravings. EG

          5.       THE HAXAN CLOAK, Excavation (Tri Angle Recors)

E por falar em Semibreve, Excavation ganhou uma dimensão enorme depois de o ver tocado ao vivo nesse mesmo evento. Uma experiência que nunca irei esquecer. Um disco que se entranha imenso com o passar das audições, com uma sonoridade fenomenal, um ambiente indescritivelmente depressivo, igual a absolutamente nada que tenha sido feito até hoje. LMV 

     6.      BOARDS OF CANADA, Tomorrow’s Harvest (Warp)

Existe por aí uma quantidade imensurável de música sintética concebida com um único propósito: o de nos fazer dançar. No caso dos escoceses isso também é aplicável, porém apenas se se atentar que a dupla não direcciona a sua música a nós enquanto seres físicos. Quem dança não somos nós, são os nossos sentidos comandados pelas sensações que se despertam no nosso cérebro, enquanto o desencanto pelas melodias nos é dissertado pelos Boards Of Canada. Não gingamos em malhos como Nothing Is Real, Sick Times, Come To Dust ou Reach For Dead, mantemo-nos estáticos tal como a essência dos irmãos pede, mas é inegável dizer-se esse sentimento de indiferença nos passa simultaneamente pela cabeça: é aí que os escoceses são gigantes. EG

     7.       JON HOPKINS, Immunity (Domino Records)

Immunity é, traduzindo para a nossa língua mãe, imunidade. Será paradoxal um álbum com níveis hipnóticos tão altos como este, uma obra-prima absolutamente divinal, ter este nome. É impossível, para qualquer ser humano que tenha os ouvidos sãos, sair daqui imune a toda a experiência sónica que aqui podemos viver. Não dá, simplesmente. Cabe a cada um de nós vivê-la. Vivam-na, desfrutem-na, celebrem-na, mas fiquem com certeza que é uma das vivências mais únicas e idiossincráticas dos últimos tempos da Intelligence Dance Music. EG

      8.       DJ RASHAD, Double Cup (Hyperdub)


DJ Rashad é um dos verdadeiros criadores, a par com o DJ Spinn, deste género que se está a tornar o dubstep de 2013 no que toca à difusão e hype mundial que o estilo tem tido. Estava com um bocado de receio de ouvir este disco, porque um álbum inteiro em que os BPM’s rondam o 170 não me soava uma boa ideia. Mas boa review atrás de boa review, lá tive que ouvir, e como estava eu enganado. Este disco tem malho após malho e não pára, rebenta com tudo, literalmente. E que surpresa, ao contrário das músicas que conhecia deste senhor, isto não é aquele footwork/juke puro, mas sim uma magnífica fusão de géneros e consegue ser um passo gigante à frente daquilo que se faz no mundo da electrónica actualmente. LMV
     
      9.       YOUTH LAGOON, Woundrous Bughouse (Fat Possum Records)


Existem momentos, e não nos deixemos enganar: é nos momentos que Wondrous Bughouse mais se revela avassalador e belo. É na segunda faixa do registo, e ao instante 2:57, que tudo começa. O ruído nasce. É aí, claramente, que Youth Lagoon mais se esquiva da maneira como ladeou o seu disco de estreia. Não existe uma simples maturação, existe, sobretudo, uma modificação. O cantar dos passarinhos quando batem as sete da manhã passa ao lado, o berço foi abandonado; as paisagens que inspiraram e criaram Wondrous Bughouse são distintas, menos aconchegantes e mais dinâmicas. Agora já não sete da manhã e já não se está na cama a ouvir os passarinhos, agora são sete da tarde. E os passarinhos abandonaram a cidade. EG
     
      10.   CHELSEA WOLFE, Pain is Beauty (Sargent House)

Pain is Beauty da Chelsea Wolfe torna as coisas altamente deprimentes, mais uma vez, mas aqui um pouco menos do que fez em Apokalypsis. A voz dela é doce e etérea, e os instrumentais conseguem ser o oposto: notam-se melodias amarguradas, graves e batidas hipnóticas que se fundem da melhor maneira... e por muito antagónicos que sejam os componentes voz / instrumental, os dois acabam por ser como almas gémeas, casando-se e formando um só motivo, algo absolutamente único chamado Pain is Beauty. LMV

11. THESE NEW PURITANS , Field Of Reeds
12. BARDO POND, Peace On Venus
13. OISEUAUX-TEMPETE, S/T
14. FUCK BUTTONS, Slow Focus
15. OATHBREAKER, Eros | Anteros

OS 10 MELHORES REGISTOS NACIONAIS DE 2013

      1.       QUELLE DEAD GAZELLE, Quelle Dead Gazelle (Ed. Autor)

As viagens celestiais ficam prometidas em momentos como Afrobrita, Fillow Pight ou Lion Meets Gazelle (onde, de resto, a ajuda de Fábio Jevelim foi preciosa). E quando chegamos ao próprio universo dos Quelle Dead Gazelle (embora estes universos não sejam uma coisa totalmente nova), é que se dá o clic: abanamos a cabeça, gingamos (engraçada a vertente dançável q.b. das músicas da dupla) e gritamos, mesmo que a vertente lírica não exista na sua música. E sejamos sinceros: para quê acrescentar palavras àquilo que a guitarra e a bateria iam cilindrar? O barulho por si só diz(-nos) muita coisa, e no caso dos Quelle Dead Gazelle diz-nos demasiado; diz-nos que este é um dos projectos a que devemos estar mais atentos, diz-nos que estes dois senhores são mestres no que ao ruído diz respeito e diz-nos, não menos importante, que são do caralho. Habemus música, habemos banda, hamebus futuro. EG
      
      2.       ERMO, Vem Por Aqui (Ed. Autor)

A experiência de ouvir Ermo, quer no seu EP quer agora em Vem Por Aqui é abaladora, inquietante e, desculpem-me se me sirvo de hipérboles, quase única: não espanta, por isso, que no fim da viagem, no momento de atracar a caravela, desconheçamos as terras que se encontram; é um espaço novo, nunca antes, por nós, navegado, onde tudo o que lá existe e habita se resume àquilo que poucos esperariam encontrar. Sabemos apenas que é por lá, nos seus lugares mais sombrios, que os Ermo viram o seu sol, a iluminação paradoxal do seu estro, da sua essência: como sabe bem mirar um hipotético horizonte e encontrar caravelas, parte da história e glória nacional, a chegarem a novas terras em pleno século XXI, porém terras diferentes, mais tristes que outrora. Da glória dos nossos antepassados e da tristeza de Portugal versão 2013 se serve o triunfo dos Ermo. EG

      3.       LADY INFERNO, Grim Love (Ed. Autor)

Grim Love, o primeiro de dois EP's lançados este ano por Lady Inferno, um grande amigo meu que tenho o prazer de acompanhar musicalmente ao longo destes anos. E a evolução é notória, principalmente em termos da sonoridade que tem apresentado recentemente, apesar de gostar bem mais deste EP do que do que veio a seguir. Mas isso acontece porque este Grim Love é MESMO bom. A primeira música tem das melhores pulsações graves que já ouvi, e a última tem a melhor progressão de acordes e desenvolvimento. Lindíssima a Always See Everything, figuraria na boa num top de músicas do ano. LMV

4. MEMOIRS OF A SECRET EMPIRE, Memoirs of a Secret Empire EP
5. JEWELS, Só no fim
6. DREAMWEAPON, Dreamweapon EP
7. JOAQUIM BARATO, Caress Transgress
8. LINDA MARTINI, Turbo Lento
9. NOISERV, A.V.O.
10. TORTO, Torto Ep



AS 5  MELHORES CANÇÕES DE 2013 / EMANUEL GRAÇA

      1.       Jubilee Street, de Nick Cave & The Bad Seeds

Passaram-se quase dez meses da edição de Push The Sky Away. Pelo meio, houve um concerto incrível de Nick Cave & The Bad Seeds no Optimus Primavera Sound 2013, uma paixão que se teimou em apagar pela “Jubilee Street” e a desconfiança que esta canção é, na minha opinião, a melhor de todas as canções que Nick Cave alguma vez escreveu (e esse estatuto está longe der ser uma coisa fácil). Do primeiro verso, aquele que nos transporta para o local onde as coisas aconteceram («On Jubilee Street there was a girl named Bee»), ao derradeiro verso, uma passagem que ainda hoje não me sai dos ouvidos («Look at me now / I’m Flying») existe um contínuo crescimento da vertente instrumental até se dar a dita explosão: a partir daí a música ecoa-se nos nossos ouvidos, somos felizes a ouvir a tristeza de Nick Cave. Quem disse que na tristeza não existe felicidade?

     2.       Pangloss, de Ermo

Da glória dos nossos antepassados e da tristeza de Portugal versão de 2013 se serve o triunfo de Vem Por Aqui, disco de estreia dos bracarenses Ermo. “Pangloss”, canção maior do registo e aquele que melhor espelha o que nos traz o duo, é irreversivelmente o melhor momento musical que pudemos encontrar num disco português de 2013; de perfil intervencionista e a evocar a grandiosidade de “Vampiros”, de José Afonso, relatam-nos um Portugal que, desde então, se mudou: mudou-se filosófica e eticamente e deixou que se lhe mudassem as vontades e crenças. Por entre a fusão dos sintetizadores com os beats pujantes, nasce a obra que os portugueses necessitavam, mas que possivelmente não mereciam.  «Cala-te e come // Tu não tens fome. // És surdo e mudo // Orelhas de burro» são os quatro versos delineados, escolhidos a dedo, para desenlaçar Vem Por Aqui. Talvez não nos encontremos em tempos de não comer porque os outros comeram tudo e não nos deixaram nada, talvez agora a gente não coma porque não tem fome, porque somos uns burros e mesmo famintos mentimos a nós próprios dizendo que não temos fome. Afinal quem é que andamos a querer enganar? Está na hora de ver o nosso próprio sol porque Portugal está p’ra acabar e não podemos deixar o cabrão morrer.

      3.       Blood on the Leaves, de Kanye West

Kanye West diz-se Deus e há provas disso (afinal não é toda a gente que escreve canções com o título “I Am a God”). A arrogância de Kanye é, e toda a gente sabe disso, extrema, porém quem sampla Nina Simone para uma música de hip-hop absolutamente vertiginosa sem invocar o seu nome em vão só pode estar perto desse patamar: é, inquestionavelmente a melhor música de Yeezus, e até o trabalho dos TNGHT (banda de merda) está no limiar da perfeição. Além disso, “Blood on the Leaves” salva-nos do sacrifício que foi ouvir “Hold My Liquor” e traz-nos ainda mais fôlego do que o primeiro quarteto de canções do álbum, onde o trabalho dos Daft Punk está delicioso, contrariamente ao que fizeram no RAM. No fim, recordamos sempre a voz de Nina: «Strange Fruit hanging / from the popular trees / blood on the leaves».

     4.       Ela não disse, de Main Dish

Reavivar-se um movimento que nunca teve a admiração generalizada que merecia é, vinte anos depois, desafiante; Main Dish, que estará prestes a editar Oneiric, traz-nos da melhor maneira possível, e já desde a edição de Insight ou do próprio single Girls With Hats Are So Loevely, as lembranças de um Reino Unido embebido em criatividade, inovação e criação de obras pouco convencionais para a altura, que se intimidavam, de uma forma tímida, com o shoegaze e com a panóplia electrónica que ia surgindo na altura. “Ela não disse”, o melhor momento de Este Inverno, vive de tudo isso, mas também de uma peculiar distorção vocal, que acaba por funcionar como um falso instrumento de uma maneira absolutamente estrondosa enquanto a guitarra, bem sintonizada com nomes como Bark Psychosis, trata do resto. Por vezes, arriscar traz-nos vitórias: no caso de Main Dish, apenas se arrisca a ser quem é e isso só por si só acaba por ser a sua vitória.


     5.       Whatever I Want, de Death Grips

O que difere dos Death Grips do ano passado para os Death Grips deste ano? Acima de tudo, é que os “novos” Death Grips estão mais preocupados com a sua vertente electrónica do que seus ancestrais. Government Plates, o meu álbum de 2013, concilia de uma maneira perfeita o hip-hop ao noise e à música electrónica na sua generalidade: a priori, esta aliança seria difícil de passar do papel, mas a verdade é que esta foi feita de uma maneira assombrosa. “Whathever I Want (Fuck Who’s Watching)” é o maior paroxismo deste cruzamento inesperado de géneros e consegue ser uma espécie de compêndio de todo o registo: momentaneamente belo, mas sempre inóspito e cruel.

AS 5  MELHORES CANÇÕES DE 2013 / LUÍS MIGUEL VIEIRA
       
      1.        Bipp, de Sophie

A minha música do ano está escolhida já há muito tempo, provavelmente desde que a ouvi. Poucas são as músicas que chegaram a competir com ela em termos de pensar à frente, sendo, de longe, a música mais única e própria que ouvi este ano, e talvez seja essa a razão de ou ser adorada ou odiada. Uma música que traz o futuro da música de dança até nós na forma de nuvem cor de rosa feita de algodão doce, tão viciante como minimal, tocando apenas nos aspectos sinestésicos que interessam. Perfeita.

      2.        Blood On The Leaves, de Kanye West

Já muito falei sobre o último disco de Kanye West, e tinha mesmo de escolher esta como uma das músicas do ano. Incrível como traça gerações ao samplar um piano de Nina Simone por baixo do instrumental de trap dos TNGHT, e inacreditável a maneira como encaixam na perfeição. A letra também ajuda à festa, com uma performance vocal à Kanye West. Tudo no sítio, mesmo.
      
      3.       Come to Dust, de Boards of Canada

A música dos Boards of Canada tem um poder enorme de nos transportar para outro estado, aquele feel matinal e melancólico adorável, só conseguido através de todas as ideias texturais e ambientais que o duo nos foi habituando ao longo dos quase 30 anos de carreira. Esta música aparece numa fase em que já se torna incrível como as ideias deles não esgotam, e, além de não se esgotarem, ainda surgem neste formato de perfeição.
     
     4.        Into the Green Wild, de Julia Holter

A Julia impressiona neste último registo, mas este consegue superar tudo o resto e assume-se como o ponto mais alto, e um dos melhores do ano. Só me consigo recordar do groove incrível que o baixo desta música proporciona, e todos os elementos escolhidos a dedo nesta canção que encanta. Impossível estar quieto.

      5.       Eyesdontlie, de Machinedrum

Um dos maiorais do footwork, é um dos artistas de electrónica mais ecléticos que já vi, e prolíferos também. Passa do footwork ao future garage num ápice, e ainda cheira no house e no hip-hop, fazendo sempre álbuns diferentes entre cada género. Um exemplo disso é o Vapor City, uma evolução gigante desde Room(s) onde se assume claramente mais maduro e com músicas enormes como esta eyesdontlie e a Gunshotta. Obrigatório.

ESCOLHAS DE EMANUEL GRAÇA E DE LUÍS MIGUEL VIEIRA.

1.14.2014

Main Dish à conversa com Lady Inferno



Uma cidade nortenha, dois músicos, cerca de trinta lançamentos no conjunto dos dois. Uns mais a sério que outros, é certo, mas é a paixão honesta pela música que faz com que estes dois amigos se movam no mesmo sentido. Sim, estou a falar de mim na terceira pessoa, mas isso agora não interessa. Estou, também, a falar de João Tomé Pereira, conhecido no mundo musical como Lady Inferno, e amigo meu de longa data. Companheiro de discussões musicais, e não só, e, por vezes, conselheiros recíprocos de versões pré-lançamento dos nossos discos, quais produtores executivos da bedroom music. Havia uma ideia de fazermos uma entrevista um ao outro, já que ninguém quer saber de nós, mas nós queremos que o mundo nos entenda e temos a ânsia de ser ouvidos. Há também quem peça colaborações entre os dois, esquecendo-se, ou desconhecendo, que até temos uma banda com o grande Tiago Ferreira e o Manel Montenegro. Então decidimos publicar esta conversa informal, onde contamos um ao outro sobre os nossos próximos discos e sobre o que nos move na altura da criação musical.

Então puto, como é que vai esse novo cd?
Mais rápido do que estava à espera, maioritariamente instrumental, e vai ser dark e deep com vários momentos de claridade, mas essas são as curtinhas. Vou comprar um microfone depois do natal, para gravar vozes a sério, acho que só 3 musicas vão ter voz.

Eish, boa cena! Mas vai ser muito diferente do Grim Love e do Old Love?

Não demasiado diferente, acho que a vibe da Grim Love é muito parecida ao que tenho feito, mas depende das musicas também.

Tou a ver. É o meu favorito dos dois. Mas mais na onda da primeira ou da última?

Da 1ª, da Grim Love mesmo, dark e bassy. Não consigo não copiar descaradamente o Andy Stott. E o Burial, claro.

LOL, isso parece-me muito bem. E títulos, já tens alguma coisa pensada ou não queres revelar para já?

Não quero revelar para já, mas são uma cena mesmo importante para mim, por isso penso imenso neles logo de início. O facto de umas palavras serem o símbolo da música é vital, desde o Weakling que nenhum título é dado sem pensar mil horas sobre ele. E não gosto de os revelar cedo demais, mesmo quando te mando as "demos" vão só com números, mas mais recentemente tenho usado nomes de super herois para os encobrir, por razão aleatória. O working title do album é Aquaman.

LOOL. Ainda ontem estive a rever uns episódios de Entourage. Mas sim, acho que quando começamos a meter significados importantes para nós às músicas que fazemos, vemos que é assim que faz sentido, e as coisas acabam por sair muito mais naturalmente e o resultado final é muito mais recompensador.

Eu, o André e o Manel tamos a rever. Agora fala tu um pouco do Oneiric, quanto está feito?

O Oneiric está todo composto, só que falta afinar alguns pormenores porque quero que saia mesmo perfeito. E falta gravar algumas cenas de novo, principalmente as vozes. Quando está feito não sei, mas queria adiantar ao máximo nos próximos tempos.

Como vão ser as vozes?

Vão ser algo que não quero que se destaque demasiado, vão fazer parte do instrumental e serão só pequenas frases que penso que vão acrescentar cenas fixes em termos sonoros e também em termos de significado das músicas em si.

E vais ser só tu?

A cantar? Não queria, mas pra já vou gravá-las todas eu, e depois vou analisar a cena e decidir quais fazem mais sentido que fiquem com uma voz feminina, e depois tentar arranjar alguém para as cantar. Mas há algumas que vou ser eu, sim.

Eu também estou a pensar arranjar uma pessoa para cantar numa das musicas mais calminhas, mas é a musica menos desenvolvida que tenho para já, mas acho que podia ser bonito, porque vozes femininas é amor. Mas ainda nem gravei as minhas vozes e escrevi uma letra ainda só por isso penso nisso mais tarde. Mas continuando, eu achei o Este Inverno muito diferente do Insight, mais activo, menos abstracto. O Oneiric vai ser assim ou escolheste as mais assim para irem pro Este Inverno?

Algumas das músicas do Este Inverno faziam parte do Oneiric originalmente, como a Hope e a Derivada, mas depois surgiu-me um conceito novo que queria explorar e aproveitar, então escolhi que essas saíssem do álbum. A Derivada porque não encaixava assim muito bem no conceito do Oneiric, e a Hope porque encaixava perfeitamente na do Este Inverno... e assim acho que tenho uma tracklist para o álbum muito mais coesa e que mantém um nivel de qualidade mais elevado, na minha opinião. Em termos de sonoridade acho que não tem nada a ver com o Insight e muito mais a ver com o EP, mas mais elaborado se calhar... mas lá está, vieram da mesma altura e da mesma visão, por isso sim, tem muito a ver com o Este Inverno, e será tipo uma evolução desse som, ou continuação.

E se o EP dura tipo 12 minutos, quanto dura o álbum?

O álbum vai durar por volta de 35 minutos.

Óptimo, bem que precisavas de um lançamento com mais tempo. E mais ou menos quantas musicas?

Tenho 13 músicas neste momento, mas não tenho a certeza se ficarão todas. Ou até se terei mais alguma para incluir. Porque o álbum tem um conceito um bocado abrangente, e há sempre coisas que vão surgindo e acontecendo e que podem ser adicionadas, se realmente for caso para isso e se vier acrescentar alguma coisa à história que quero contar.

Ah, estás mesmo a fazer músicas maiores e tudo. O facto das músicas do Insight serem muito pequenas era influência do J Dilla, não é?

Sim! Era muito influencia do Donuts como espécie de mixtape, e aproveitei-me um bocado disso para criar o meu próprio estilo de “canção”.

Como é que hip hop e electrónica se metem na tua música?

Acho que esses dois géneros se vão notar muito mais no próximo álbum ao nível da parte rítmica só. Praticamente todas as músicas vão ter batidas feitas para serem dançadas, vá, e tento aproveitar muito conceitos que vêm do house, do hip-hop e do future garage, por exemplo, mas numa abordagem um pouco mais jazzy, talvez.

Wow, vai haver partes minimamente dançáveis?

Acho que a grande maioria. Das músicas que já lancei, acho que a música que mais se assemelha a essa direção é a Derivada. E tu, já que fazes música electrónica, que géneros e artistas te influenciam mais?

Há bocado falei do Burial e do Andy Stott, especialmente o Burial é a influência para todos os aspectos da minha vida. Em relação a este álbum também terá influências de Zomby, Pantha du Prince, Teebs, How to Dress Well, assim de repente. Mas Burial e Andy Stott são mesmo àquelas em que tenho estado mais focado, apetece-me imitá-los em todos os sentidos. Gostava de conseguir fazer techno limpinho e cristalino como o Pantha du Prince, mas acaba sempre por ficar muddy. Techno é mais complicado do que parece.

Pois, tá na hora de começares a usar o Ableton, não querendo voltar a chatear-te com isso...

Depois deste álbum, começo a brincar com isso.

Mas ya, Andy Stott e Burial estão lá em cima nesse tipo de música.

Tenho uma música nova que até me sinto mal em mandar porque é tão cópia, mas tá tão fixe, e faz sentido, por isso vou deixar, e, para além disso, têm um sample de lady gaga, por isso...

Lady Gaga... está bem. Eu tenho um de Kanye West.

O meu faz muito sentido, nem é muito para ornamentar música, é mais por aquilo que passa. Está pouco reconhecível também, mas pronto.

É como o meu, então. Eu ainda andei à procura doutro sample que passasse a mesma ideia, só que aquele soa tão bem... mas também se liga com o significado da melhor forma.

Temos de ver se não somos processados depois.

Espero que não... vindo do Kanye nunca se sabe. Mas lá está, o meu medo é exactamente esse, por isso é que queria arranjar outra coisa.

Não te preocupes, ele também samplou a vida toda.

Pois lá está, mas também levou com os seus processos em cima. Mas é uma cena mínima mesmo, também.

Eu samplo mil pessoas diferentes, filmes, entrevistas, musicas... Este album está cheio disso, mas tou seguro.

Que fixe! Estou mortinho por ouvir isso.

Espero não desiludir. Mas eu estou a gostar do que faço, mas como ainda só eu é que ouvi não sei dizer. Em breve mandar-te-ei o 1º rabisco do album.

Fixe. Eu até te mandava o meu, mas tá sem vozes e queria que ouvisses uma versão que as tivesse.

Ya, eu também quero gravar as vozes primeiro. E as tuas influências para o Oneiric em particular?

Não te sei dizer em concreto... acho que a parte das guitarras anda à volta do que há desde o Insight, tipo Disco Inferno, Durutti Column, Smiths, B Fachada... a minha maneira de tocar é que sofreu uma evolução muito grande desde então, mas acho que as influências nesse aspecto se mantiveram um bocado... deixaram de ser influências tão directas quanto eram porque desenvolvi uma cena mais particular minha, mas as bases são essas.

Acho que a maneira de tu tocares é mesmo única, apesar de tudo.

Em termos da parte rítmica acho que o Gerry Read, Mark Hollis e Flying Lotus são as influencias principais, e tento fazer uma espécie de mistura dos três na maioria das músicas, mas com sons organicos de bateria.

Ler Mark Hollis e Flying Lotus seguidos como influências de batidas é esquisito.
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Mark Hollis na "The Gift", Gerry Read na "Crawl", por exemplo… mas é injusto não referir também todo o house e future garage que sempre ouvi. Mas essas duas músicas foram especialmente influentes para definir aquilo que queria seguir. E no caso do Flying Lotus, todo o Los Angeles. E o Burial obviamente que é uma grande influencia porque foi ele que me empurrou para o future garage e o house, e as batidas andam muito à volta de conceitos que ele usava mais no início.

Se não fosse o Burial nenhum de nós tava aqui.

Verdades...

E, por falar nisso, lembro-me da última música do Teared Clouds, a Angel Range (melhor referência também) que era a imitá-lo. Como te sentes em relação a esses albuns e como se relacionam, se é que se relaciona de todo, com o Main Dish contemporâneo?

Acho que na altura em que o Insight era um embrião, o Teared Clouds ajudou-me um bocado a definir a minha forma de compor, porque gosto muito da Bulbiferum e da Running In Parks. E nessa altura lembro-me que achei que, no meio daquela salada de rock progressivo, havia aquelas duas músicas mais pop muito fixes... e acho que são as únicas que se relacionam com o que ando a fazer agora. Mas na altura não impunha significados às músicas como faço agora, era mais numa onda de explorar as minhas influências, nem fazia álbuns a pensar no todo em termos de sonoridade, andava um bocado a explorar tudo aquilo que gostava na altura, e acabava por os imitar um bocado, como nessa que referiste. Acho que o que tenho feito agora tem mais personalidade e é muito pessoal mesmo.

Belos tempos de fazer música no guitar pro... agora só de me pensar em "guitar" fico confuso. Talvez um dia volte a fazer música com guitarra, especialmente com dois albuns de electrónica deste ano tão bons que estão cheios de guitarra, o Engravings do Forest Swords e o Psychic dos Darkside.

Eu ainda começo pelo guitar pro, mas agora com o ableton ando-me a deixar disso aos poucos. Começo sempre por compor na guitarra, mas quero começar a fazer música electrónica em breve, por isso, isso pode deixar de acontecer com tanta frequência. Mas só vou pensar nisso quando o Oneiric estiver cá fora. Mas não me vejo a encostar a guitarra, quanto muito vou ter dois projectos em separado.

Ya, quero ouvir músicas tuas pro densefloor.

LOL

Ya, e fazes bem, eu é que sou preguiçoso. Até porque no Weakling, gosto muito das guitarras da Salmacis e da Weak Signals.

A Salmacis é das melhores músicas que já fizeste... e adoro a guitarra ali.

É post-rock... nunca mais fui para esses lados.

Não sei, mas a melodia é linda. Essa e a Always See Everything, melhores malhos.

Só gostas das mais pussy.

Já não sabes... o Oneiric é o álbum mais pussy de sempre.

Mas a tua música sempre foi muito sensível e bonita, isso é bom.

Sim, a tua tem-se tornado bastante mais escura e a minha mais colorida, mas continua a ter significados tristes a maior parte das vezes.

btw, vais achar piada a isto, pus vários samples de fábricas e garagens no novo album por causa de uma conversa qualquer no teu facebook.

LOL "máquinas a trabalhar"?

ya haha

Andy Stott forever.

sim

E agora para acabar, já que se fala outra vez em significados, o que tens a dizer sobre isso em relação às músicas que fazes? Há bocado disseste que desde o Weakling que pensas sempre imenso nos títulos e assim. Isso também me acontece desde o Insight, mas gostava de saber o que mudou e de que forma as tuas coisas pessoais têm influenciado a tua música.

Hm, o Weakling era basicamente 100% pessoal, sobre mim e como me relaciono com outras pessoas, sobre a fragilidade das relações, românticas, amizades e com os pais, muito sobre o medo do futuro etc. O Grim/Old lidou com cenas completamente diferentes, foi o raciocinar de imensos problemas mesmo interiores, mas lidando com eles de forma exterior. O novo continua aí, mas agora é um statement, estou a tentar transmitir mensagens (daí usar imensos samples de pessoas a falar em vez de ser eu cantar de forma pessoal) em vez de simplesmente ser sobre mim. Faço-te a mesma pergunta a ti, já agora.

Tou a ver... isso é fixe, era mais ou menos a ideia que tinha da tua música também. Tipo achei curioso o que disseste do Weakling, porque tinha uma ideia diferente, e não sabia que havia tanta semelhança entre isso e o Insight, que não é tanto sobre as cenas que referes, mas é 100% sobre mim, foi feito numa altura de descoberta pessoal e fala de algumas características minhas que fui descobrindo nessa altura e quis expressar nesse cd.

Que ideia tinhas?

Sabia que era sobre cenas tuas, mas não sobre ti em concreto...

Foi um álbum sobre relações, é basicamente isso. E agora o oneiric, é sobre quê?

O Oneiric é sobre relações, mas só amorosas, haha.

És o maior romântico que conheço, não esperava outra coisa (não digo isto de todo de forma negativa).

Aww. Fui aproveitando algumas coisas que me aconteceram nesse campo e me fizeram ficar num certo estado de espírito para criar aquelas músicas. Músicas sobre pessoas, sentimentos, coisas que me fizeram sentir... e outras foi simplesmente querer fazer uma música sobre aquilo, tipo a Last Year que é sobre o amor e as suas fases naturais. Por isso essa em especial consegue ser um bocado bipolar... Mas é a única.

Isso é um conceito fixe.

Espero que a música seja ainda mais fixe. Tem uma parte com violinos, tipo.

Tu e violinos, nunca pensei.

Pois... mas é só numa parte também, mas ficou mesmo bem ali.

Fixe