Título: Reflektor
Edição: Outubro
de 2013
Classificação final: 6.0/10
“Reflektor”,
o primeiro single, de título
homónimo, extraído do mais recente disco dos Arcade Fire, fazia prever
uma mudança tremenda na música dos canadianos (tudo partiu da mamã “Sprawl II”):
as panóplias electrónicas passaram a assumir uma importância tremenda no
processo de génese sonora, as guitarras passaram para segundo plano e iam-se
aproximando do post-punk mais dançável
dos 80’s e o habitué violino aqui nem
vê-lo. Uma mudança tão radical sem nenhuma razão plausível por detrás disso
seria estranha, porém existem alguns factores que podem ter levado a esta
inversão. O mais provável é, e sempre será, o nome de James Murphy, fundador
dos extintos LCD Soundsystem e o responsável pela produção de Reflektor. Outro dos factores pode estar
associado ao facto do seu antecessor, The
Suburbs, apesar de ter tido uma recepção quer por parte do público que por
parte da crítica, seguir a mesma orientação sónica do (quase) lendário Funeral e do emotivo Neon Bible.
As desconfianças
viraram certezas: Reflektor traz-nos,
irreversivelmente, uns Arcade Fire renovados, mais
preocupados com abordagens simples à música electrónica, uma abordagem repleta
de sintetizadores concitantes que nos dão vontade de dançar (ouça-se “Reflektor”,
paroxismo desta premissa), ao mesmo tempo que se aventuram pelos espaços post-punk dignos de uns Talking
Heads (e não há como fugir a isso por muito cliché que esta frase possa
soar). Por demasiadas vezes, esse exercício não corre bem: as guitarras de “Flashbulb
Eyes”, “You Already Know” ou “Porno”, canções onde mais se sente a essência de
David Byrne, são execráveis. Noutras ocasiões, o saldo é demasiado positivo: “Normal
Person”, “We Exist”, que soberba linha de baixo, ou “Afterlife” são canções com
uma qualidade irrepreensível e são juntamente com “Reflektor” os pontos que
salvam o quarto LP dos canadianos de estar mau.
Quando Reflektor é um disco visto de uma
maneira que não pelas suas peças mas sim pelo seu todo, também existem pontos
bons, pontos maus e pontos horríveis: um aspecto positivo é, e têm toda a
legitimidade para discordar, a sua duração; em tempos que as pessoas ignoram o
conceito de álbum, que não ouvem uma determinada coisa por estar ter uma
duração superior a uma hora, urge educar essas pessoas e dizer-lhes que um
álbum é uma espécie de puzzle que só se compões se o ouvirmos inteiro e não por
partes. Os Arcade Fire obrigam a isso porque sabem que têm público para
isso, porque sabem que as pessoas os ouvem e acabam por criar um álbum
desafiante para os paradigmas pop da
segunda década do séc. XXI: 75 minutos de álbum. Pontos maus: falta de coesão
tremenda, uma irregularidade assustadora para quem já nos condimentou
obras-primas como Funeral. Pontos
horríveis: uma banda com a grandeza que os Arcade Fire têm não pode mostrar
tanta indecisão quanto àquilo que quer: passar de música como “We Exist”, com
tantos aspectos bons e com um esqueleto muito bem definido, para “Flashbulb
Eyes”, uma canção que se mostra puramente vazia e sem ideias, algo que está ali
só “para encher chouriços” é lastimável.
Em suma, Reflektor é uma meia desilusão: meia
porque não assim tão bom quanto aquilo que “Reflektor” e a recepção que esta
tinha vindo a ter o fazia parecer ser, nem tão mau quanto aquilo que certas
gentes o iam pintando. No fundo, acaba por ser um disco razoável, mas muito,
muito mediano para uma banda com uma obra discográfica como os Arcade
Fire por muito que desafio de renovar a sua sonoridade pesasse neste
novo disco. De treze canções, duas excelentes, três boas q.b., cinco medianas e
o resto acaba por ser tudo uma merda bem grande. É uma pena, mas no fim
acabámos todos a RiR, não é verdade?
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