11.30.2013

ARCADE FIRE - REFLEKTOR (LEIAM PORQUE FALAMOS DO NOVO DISCO DOS ARCADE FIRE)

Título: Reflektor
Edição: Outubro de 2013
Classificação final: 6.0/10

“Reflektor”, o primeiro single, de título homónimo, extraído do mais recente disco dos Arcade Fire, fazia prever uma mudança tremenda na música dos canadianos (tudo partiu da mamã “Sprawl II”): as panóplias electrónicas passaram a assumir uma importância tremenda no processo de génese sonora, as guitarras passaram para segundo plano e iam-se aproximando do post-punk mais dançável dos 80’s e o habitué violino aqui nem vê-lo. Uma mudança tão radical sem nenhuma razão plausível por detrás disso seria estranha, porém existem alguns factores que podem ter levado a esta inversão. O mais provável é, e sempre será, o nome de James Murphy, fundador dos extintos LCD Soundsystem e o responsável pela produção de Reflektor. Outro dos factores pode estar associado ao facto do seu antecessor, The Suburbs, apesar de ter tido uma recepção quer por parte do público que por parte da crítica, seguir a mesma orientação sónica do (quase) lendário Funeral e do emotivo Neon Bible.

As desconfianças viraram certezas: Reflektor traz-nos, irreversivelmente, uns Arcade Fire renovados, mais preocupados com abordagens simples à música electrónica, uma abordagem repleta de sintetizadores concitantes que nos dão vontade de dançar (ouça-se “Reflektor”, paroxismo desta premissa), ao mesmo tempo que se aventuram pelos espaços post-punk dignos de uns Talking Heads (e não há como fugir a isso por muito cliché que esta frase possa soar). Por demasiadas vezes, esse exercício não corre bem: as guitarras de “Flashbulb Eyes”, “You Already Know” ou “Porno”, canções onde mais se sente a essência de David Byrne, são execráveis. Noutras ocasiões, o saldo é demasiado positivo: “Normal Person”, “We Exist”, que soberba linha de baixo, ou “Afterlife” são canções com uma qualidade irrepreensível e são juntamente com “Reflektor” os pontos que salvam o quarto LP dos canadianos de estar mau.

Quando Reflektor é um disco visto de uma maneira que não pelas suas peças mas sim pelo seu todo, também existem pontos bons, pontos maus e pontos horríveis: um aspecto positivo é, e têm toda a legitimidade para discordar, a sua duração; em tempos que as pessoas ignoram o conceito de álbum, que não ouvem uma determinada coisa por estar ter uma duração superior a uma hora, urge educar essas pessoas e dizer-lhes que um álbum é uma espécie de puzzle que só se compões se o ouvirmos inteiro e não por partes. Os Arcade Fire obrigam a isso porque sabem que têm público para isso, porque sabem que as pessoas os ouvem e acabam por criar um álbum desafiante para os paradigmas pop da segunda década do séc. XXI: 75 minutos de álbum. Pontos maus: falta de coesão tremenda, uma irregularidade assustadora para quem já nos condimentou obras-primas como Funeral. Pontos horríveis: uma banda com a grandeza que os Arcade Fire têm não pode mostrar tanta indecisão quanto àquilo que quer: passar de música como “We Exist”, com tantos aspectos bons e com um esqueleto muito bem definido, para “Flashbulb Eyes”, uma canção que se mostra puramente vazia e sem ideias, algo que está ali só “para encher chouriços” é lastimável.

Em suma, Reflektor é uma meia desilusão: meia porque não assim tão bom quanto aquilo que “Reflektor” e a recepção que esta tinha vindo a ter o fazia parecer ser, nem tão mau quanto aquilo que certas gentes o iam pintando. No fundo, acaba por ser um disco razoável, mas muito, muito mediano para uma banda com uma obra discográfica como os Arcade Fire por muito que desafio de renovar a sua sonoridade pesasse neste novo disco. De treze canções, duas excelentes, três boas q.b., cinco medianas e o resto acaba por ser tudo uma merda bem grande. É uma pena, mas no fim acabámos todos a RiR, não é verdade?


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