7.22.2013

Super Bock Super Rock 2013




Era o último festival de Verão “grande” que me faltava visitar. E, tendo em conta todos os relatos que já me tinham chegado aos ouvidos, as minhas expectativas resumiam-se a apenas um sentimento: o medo.  Mesmo assim, tinha uma grande curiosidade em sentir na pele como era o ambiente do festival, e esta era uma oportunidade de ouro para o fazer, devido à boa companhia e ao grande nome que encabeçava o cartaz.


A organização do Super Bock Super Rock desta vez merece os louros. Nunca tive de esperar mais de 15 minutos numa fila, e isso só aconteceu uma vez quando jantei no recinto (melhor bifana de sempre). E é preciso referir que os bilhetes estavam quase a esgotar, por isso, aquilo estava mesmo cheio de gente, basta olhar para os cabeças de cartaz para acreditar nisso. O tamanho do acampamento levou um aumento bastante significativo, assim como o número de autocarros. E até a frágil relva colocada em frente ao palco ajudou bastante a diminuir o pó que tanto se falava em anos anteriores. Só me posso queixar do preço da cerveja dentro do recinto, que é algo de inadmissível quando o festival é da Super Bock (2€ por um fino?), mas mesmo assim, tiveram a ideia do Super Cooler que é algo de genial: uma espécie de banco onde depositam as vossas cervejas compradas no super mercado e as vão lá buscar consoante a vossa vontade de as beber, fresquíssimas e sem chatices. Uma maneira muito boa de fazer com que as pessoas bebam a cerveja como deve ser bebida, e também de as incentivar a passar o festival alcoolizadas. Excelente, digo eu.

Johnny Marr
(desculpem mas não me apeteceu levar a minha querida máquina fotográfica para o meio do pó)

O ambiente também foi algo que não estava à espera de gostar tanto, uma vez que estou habituado ao Paredes de Coura e ao Milhões de Festa. Sei que as pessoas são o que contam mais neste aspecto, e nesse campo foi excelente, mas mesmo o próprio acampamento ajuda a criar uma mística meia desértica e muito espiritual, assim como os autocarros descapotáveis e a praia quase paradisíaca. As luzes colocadas à noite também foram das melhores ideias de sempre, criando uma espécie de ambiente gloomy perfeito e altamente apropriado (noutros anos à noite andavam aos apalpões, segundo consta). O próprio recinto, durante o dia, tanto dava para descansar na relva à sombra com as vossas latas do Super Cooler, como dava para andar a correr de um lado para o outro à procura da diversão proporcionada pela tão amada/odiada quantidade de publicidade lá presente. Será isso uma maneira assim tão má de passar o tempo? Nem todos os festivais podem ter Jazz na Relva. Eu diverti-me bem no último dia, com uma “ligeira” bebedeira, fui ameaçado ser expulso por me atirar para uma piscina de bolas sem autorização, e ainda me habilitei a levar porrada do vocalista dos Devil In Me. Histórias épicas.

Os Chk Chk Chk (!!!) tocavam ao mesmo tempo do Gary Clark Jr e meia hora antes dos Queens of The Stone Age.
Qual é a lógica?

Agora a parte pior, os concertos. O cartaz não me puxava muito, tanto é que só decidi comprar o bilhete no dia anterior à abertura do campismo. Ainda assim, depois de ver os nomes um a um, tinha lá coisas bastante interessantes, mas que foram prejudicadas pela disposição dos horários. Não há necessidade de encavalitar tanta banda boa, e até pode ser considerado publicidade enganosa, uma vez que é humanamente impossível ver tudo o que se quer ver e só temos acesso aos horários quando lá chegamos com o bilhete na mão. O Alive é escandaloso neste aspecto, e, com isto, retiram bandas a outros festivais de verão que têm muito menos poder. O centralismo dos festivais maiores devia ser mais regularizado, talvez com uma cena ao nível do fair play financeiro que começa a haver no futebol com o aparecimento dos Manchester City’s e dos Paris Saint-Germain’s deste mundo. Das bandas que tinha curiosidade em ver, não pude ir a Owen Pallett, Toy, Expander, Midnight Juggernauts, We Are Scientists e Chk Chk Chk. Só vi o Miguel e o Julien Bracht porque os Killers estavam a ser a merda que se esperava que fossem, o que me deu vontade de mudar de ares logo no começo desse concerto. 


Desculpem outra vez mas não me apeteceu meter uma foto do cabelo azeiteiro do Alex. Assim não tava melhor?

Mas começando pelo primeiro dia, a Azealia Banks foi bastante odiada e com razão. É uma pena meterem um nome assim no mesmo dia de Johnny Marr e Arctic Monkeys, a falta de coerência e de bom gosto é enorme. Já o grande Johnny Marr, guitarrista dos ainda maiores The Smiths, deu um concerto de grande qualidade, sempre a mostrar os seus dotes como guitarrista e a sua criatividade melódica inigualável. As duas ou três músicas de Smiths que foram tocadas foram os pontos altos para mim como fã dessa banda, mas o resto do concerto foi muito bom também, mesmo para quem não conhecia o Senhor. Já os Arctic Monkeys deram o concerto mais bipolar do festival. As músicas antigas são cheias de energia e de qualidade, mas a nova direcção da banda só não os leva à miséria porque as mulheres ficam todas com o pito aos saltos com o novo penteado azeiteiro do Sir Alex Turner. O gajo não precisa de se esforçar muito para levar uma ovação enorme. Algo incompreensível na minha cabeça, e ai de quem me volte a dizer que “os homens são todos iguais”. Vergonhoso, minhas meninas, vergonhoso. Ainda assim, um bom concerto para ver de perto o que esta banda poderia ter sido. Infelizmente, depois não tive pernas para assistir ao concerto todo de Ben Klock, que começou às 4h da manhã (porquê?).


Os Black Rebel Motorcycle Club abriram o dia com o melhor concerto do mesmo. Porquê às 20h?
O segundo dia começou com os Black Rebel Motorcycle Club, que não consegui ver todo, mas que deram um concerto de qualidade e pujante. Um bom nome, mas uma péssima escolha de horas tendo em conta a magnitude do mesmo. Ainda vi um bocado de Tomahawk, mas depois tive de abandonar o senhor Mike Patton para ir jantar a tal bifana dos deuses. Espero que ele não leve a mal, depois mando-lhe um cd dos Wolfmother para casa. Kaiser Chiefs é o vocalista a partir tudo e mais quatro marmanjos que não sabem o que estão ali a fazer e, muito menos, como ali chegaram. Já quando andava a ouvir o indie britânico na altura do hype deles, eram das piores bandas para mim. Até os Killers batiam mais com o seu engraçado Sam’s Town. Nunca consegui perceber a piada dos Kaiser, mas agora percebo, é inexistente. Já os Killers podiam ter tido alguma piada, mas pelos vistos esse Sam’s Town foi apenas um golpe de sorte. Mas elas gostam, é o que interessa, não é? Depois caguei para os Killers e fiz uma visita ao Miguel, um gajo do R’n’B que no futuro poderá vir a ser um senhor, pelo que vi. Não estava à espera de gostar, mas foi bastante porreiro de ver. As meninas teriam ganho bem mais neste concerto, o gajo manda 30 vezes mais pinta que o azeiteiro do Brandon Flowers. O Julien Bracht não foi nada do que estava à espera e foi até um bocado desilusão pela falta da bateria ao vivo, como tinha visto num set qualquer dele no youtube, mas foi giro e deu para abanar o pé.


O Miguel foi uma das surpresas do festival, já saquei o cd e tudo.

Comecei o terceiro e último dia com os Ash, uma banda muito fraquinha e com uma criatividade musical muito limitada ao pop rock de 3 ou 4 acordes, mas que por vezes lhes sai um hinozito como a Shining Light ou Girl From Mars. O Gary Clark Jr podia ter sido o Jimi Hendrix se tivesse nascido noutra altura, mas agora está demasiado ofuscado pela falta de interesse geral pelo blues. Mas atenção, ele toca como o caralho e deu um bom concerto para amantes do género. Mete o Ben Harper no bolso de trás dos boxers. 

Chegou, então, o concerto mais esperado do festival: Queens of the Stone Age. Talvez os senhores do rock na actualidade, deram um excelente concerto apenas ofuscado pela falta de cérebro que os putos que vão ao SBSR têm. Tem algum jeito passarem um concerto a empurrar as pessoas para a frente? É que eu já estive em concertos bem agressivos, mas sempre houve respeito e jeito para o mosh. Aquilo que eu vi neste concerto foi simplesmente ridículo, ao ponto de quem estava lá à frente não se conseguir mexer de maneira nenhuma. Tive, obviamente, que sair lá da frente se queria ver alguma coisa à vontade. E atenção que eu já vi Men Eater e Kylesa num cubículo com mais gente por metro quadrado do que havia neste festival. Também vi Rage Against The Machine no Alive e Death From Above no Paredes de Coura, dois concertos absurdos em termos de explosão de energia do público. A diferença é que havia experiência nas pessoas que lá estavam, e não um bando de putos que até em Arctic Monkeys decidem andar à porrada. Tirando isso, Josh Homme e companhia fizeram a set list perfeita, e foi um concerto de nota máxima, o melhor do festival de longe, mas nada que não se estivesse à espera. A I Appear Missing é um dos malhões do ano de 2013, sem dúvida, e a versão alargada e musculada foi um dos momentos mais marcantes de sempre para mim. Obrigado Jon Theodore.

Os QOTSA deram de longe o melhor concerto do festival.
Resumindo, um festival que superou de longe as minhas expectativas e que passa directamente para o top 3 dos melhores festivais portugueses, apenas atrás do Paredes de Coura e do Milhões de Festa. Se a boa organização se mantiver, se o cartaz for outra vez apelativo e se a boa companhia se repetir, é para voltar para o ano, sem dúvida.

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