Era o último festival de Verão “grande” que me
faltava visitar. E, tendo em conta todos os relatos que já me tinham chegado
aos ouvidos, as minhas expectativas resumiam-se a apenas um sentimento: o
medo. Mesmo assim, tinha uma grande
curiosidade em sentir na pele como era o ambiente do festival, e esta era uma
oportunidade de ouro para o fazer, devido à boa companhia e ao grande nome que
encabeçava o cartaz.
A organização do Super Bock Super Rock desta
vez merece os louros. Nunca tive de esperar mais de 15 minutos numa fila, e
isso só aconteceu uma vez quando jantei no recinto (melhor bifana de sempre). E
é preciso referir que os bilhetes estavam quase a esgotar, por isso, aquilo
estava mesmo cheio de gente, basta olhar para os cabeças de cartaz para acreditar
nisso. O tamanho do acampamento levou um aumento bastante significativo, assim
como o número de autocarros. E até a frágil relva colocada em frente ao palco
ajudou bastante a diminuir o pó que tanto se falava em anos anteriores. Só me
posso queixar do preço da cerveja dentro do recinto, que é algo de inadmissível
quando o festival é da Super Bock (2€ por um fino?), mas mesmo assim, tiveram a
ideia do Super Cooler que é algo de genial: uma espécie de banco onde depositam
as vossas cervejas compradas no super mercado e as vão lá buscar consoante a
vossa vontade de as beber, fresquíssimas e sem chatices. Uma maneira muito boa
de fazer com que as pessoas bebam a cerveja como deve ser bebida, e também de
as incentivar a passar o festival alcoolizadas. Excelente, digo eu.
Johnny Marr (desculpem mas não me apeteceu levar a minha querida máquina fotográfica para o meio do pó) |
O ambiente também foi algo que não estava à espera
de gostar tanto, uma vez que estou habituado ao Paredes de Coura e ao Milhões
de Festa. Sei que as pessoas são o que contam mais neste aspecto, e nesse campo
foi excelente, mas mesmo o próprio acampamento ajuda a criar uma mística meia
desértica e muito espiritual, assim como os autocarros descapotáveis e a praia
quase paradisíaca. As luzes colocadas à noite também foram das melhores ideias
de sempre, criando uma espécie de ambiente gloomy perfeito e altamente
apropriado (noutros anos à noite andavam aos apalpões, segundo consta). O
próprio recinto, durante o dia, tanto dava para descansar na relva à sombra com
as vossas latas do Super Cooler, como dava para andar a correr de um lado para
o outro à procura da diversão proporcionada pela tão amada/odiada quantidade de
publicidade lá presente. Será isso uma maneira assim tão má de passar o tempo?
Nem todos os festivais podem ter Jazz na Relva. Eu diverti-me bem no último
dia, com uma “ligeira” bebedeira, fui ameaçado ser expulso por me atirar para
uma piscina de bolas sem autorização, e ainda me habilitei a levar porrada do
vocalista dos Devil In Me. Histórias épicas.
Os Chk Chk Chk (!!!) tocavam ao mesmo tempo do Gary Clark Jr e meia hora antes dos Queens of The Stone Age. Qual é a lógica? |
Agora a parte pior, os concertos. O cartaz não me
puxava muito, tanto é que só decidi comprar o bilhete no dia anterior à abertura do campismo.
Ainda assim, depois de ver os nomes um a um, tinha lá coisas bastante
interessantes, mas que foram prejudicadas pela disposição dos horários. Não há
necessidade de encavalitar tanta banda boa, e até pode ser considerado
publicidade enganosa, uma vez que é humanamente impossível ver tudo o que se
quer ver e só temos acesso aos horários quando lá chegamos com o bilhete na
mão. O Alive é escandaloso neste aspecto, e, com isto, retiram bandas a outros
festivais de verão que têm muito menos poder. O centralismo dos festivais
maiores devia ser mais regularizado, talvez com uma cena ao nível do fair play financeiro que começa a haver
no futebol com o aparecimento dos Manchester City’s e dos Paris Saint-Germain’s
deste mundo. Das bandas que tinha curiosidade em ver, não pude ir a Owen
Pallett, Toy, Expander, Midnight Juggernauts, We Are Scientists e Chk Chk Chk.
Só vi o Miguel e o Julien Bracht porque os Killers estavam a ser a merda que se
esperava que fossem, o que me deu vontade de mudar de ares logo no começo desse
concerto.
Desculpem outra vez mas não me apeteceu meter uma foto do cabelo azeiteiro do Alex. Assim não tava melhor? |
Mas começando pelo primeiro dia, a Azealia Banks
foi bastante odiada e com razão. É uma pena meterem um nome assim no mesmo dia
de Johnny Marr e Arctic Monkeys, a falta de coerência e de bom gosto é enorme. Já
o grande Johnny Marr, guitarrista dos ainda maiores The Smiths, deu um concerto
de grande qualidade, sempre a mostrar os seus dotes como guitarrista e a sua
criatividade melódica inigualável. As duas ou três músicas de Smiths que foram
tocadas foram os pontos altos para mim como fã dessa banda, mas o resto do
concerto foi muito bom também, mesmo para quem não conhecia o Senhor. Já os
Arctic Monkeys deram o concerto mais bipolar do festival. As músicas antigas
são cheias de energia e de qualidade, mas a nova direcção da banda só não os
leva à miséria porque as mulheres ficam todas com o pito aos saltos com o novo
penteado azeiteiro do Sir Alex Turner. O gajo não precisa de se esforçar muito
para levar uma ovação enorme. Algo incompreensível na minha cabeça, e ai de quem
me volte a dizer que “os homens são todos iguais”. Vergonhoso, minhas meninas,
vergonhoso. Ainda assim, um bom concerto para ver de perto o que esta banda
poderia ter sido. Infelizmente, depois não tive pernas para assistir ao
concerto todo de Ben Klock, que começou às 4h da manhã (porquê?).
Os Black Rebel Motorcycle Club abriram o dia com o melhor concerto do mesmo. Porquê às 20h? |
O segundo dia começou com os Black Rebel
Motorcycle Club, que não consegui ver todo, mas que deram um concerto de
qualidade e pujante. Um bom nome, mas uma péssima escolha de horas tendo em
conta a magnitude do mesmo. Ainda vi um bocado de Tomahawk, mas depois tive de
abandonar o senhor Mike Patton para ir jantar a tal bifana dos deuses. Espero
que ele não leve a mal, depois mando-lhe um cd dos Wolfmother para casa. Kaiser
Chiefs é o vocalista a partir tudo e mais quatro marmanjos que não sabem o que
estão ali a fazer e, muito menos, como ali chegaram. Já quando andava a ouvir o indie britânico na altura do hype
deles, eram das piores bandas para mim. Até os Killers batiam mais com o seu engraçado Sam’s Town. Nunca consegui perceber a piada dos Kaiser, mas agora percebo, é inexistente.
Já os Killers podiam ter tido alguma piada, mas pelos vistos esse Sam’s Town foi apenas um golpe de sorte. Mas elas gostam, é o que interessa, não é? Depois caguei
para os Killers e fiz uma visita ao Miguel, um gajo do R’n’B que no futuro poderá vir a ser um senhor, pelo que vi. Não estava à espera de gostar, mas foi bastante
porreiro de ver. As meninas teriam ganho bem mais neste concerto, o gajo manda
30 vezes mais pinta que o azeiteiro do Brandon Flowers. O Julien Bracht não foi
nada do que estava à espera e foi até um bocado desilusão pela falta da bateria
ao vivo, como tinha visto num set qualquer dele no youtube, mas foi giro e deu
para abanar o pé.
O Miguel foi uma das surpresas do festival, já saquei o cd e tudo. |
Comecei o terceiro e último dia com os Ash, uma
banda muito fraquinha e com uma criatividade musical muito limitada ao pop rock
de 3 ou 4 acordes, mas que por vezes lhes sai um hinozito como a Shining Light
ou Girl From Mars. O Gary Clark Jr podia ter sido o Jimi Hendrix se tivesse
nascido noutra altura, mas agora está demasiado ofuscado pela falta de
interesse geral pelo blues. Mas atenção, ele toca como o caralho e deu um bom
concerto para amantes do género. Mete o Ben Harper no bolso de trás dos boxers.
Chegou, então, o concerto mais esperado do festival:
Queens of the Stone Age. Talvez os senhores do rock na actualidade, deram um
excelente concerto apenas ofuscado pela falta de cérebro que os putos que vão
ao SBSR têm. Tem algum jeito passarem um concerto a empurrar as pessoas para a frente? É
que eu já estive em concertos bem agressivos, mas sempre houve respeito e jeito
para o mosh. Aquilo que eu vi neste concerto foi simplesmente ridículo, ao
ponto de quem estava lá à frente não se conseguir mexer de maneira nenhuma.
Tive, obviamente, que sair lá da frente se queria ver alguma coisa à vontade. E
atenção que eu já vi Men Eater e Kylesa num cubículo com mais gente por metro
quadrado do que havia neste festival. Também vi Rage Against The Machine no Alive e Death From Above no Paredes de Coura, dois concertos absurdos em termos de explosão de energia do público. A diferença é que havia experiência nas
pessoas que lá estavam, e não um bando de putos que até em Arctic Monkeys decidem
andar à porrada. Tirando isso, Josh Homme e companhia fizeram a set list
perfeita, e foi um concerto de nota máxima, o melhor do festival de longe, mas
nada que não se estivesse à espera. A I
Appear Missing é um dos malhões do ano de 2013, sem dúvida, e a versão
alargada e musculada foi um dos momentos mais marcantes de sempre para mim.
Obrigado Jon Theodore.
Os QOTSA deram de longe o melhor concerto do festival. |
Resumindo, um festival que superou de longe as
minhas expectativas e que passa directamente para o top 3 dos melhores
festivais portugueses, apenas atrás do Paredes de Coura e do Milhões de Festa. Se a
boa organização se mantiver, se o cartaz for outra vez apelativo e se a boa companhia
se repetir, é para voltar para o ano, sem dúvida.
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