8.26.2013

2012 não foi assim há tanto tempo...

2012 não foi assim há tempo quanto isso; foi um ano rico, paletes de discos com uma qualidade assinalável (desde Beach House a Kendrick Lamar), carradas de registos nos quais estavam depositadas expetactivas bastante elevadas mas que depois se revelaram um flop (The XX, Sigur Rós, Mono) ou então simplesmente álbuns de merda. Mas vamos com calma, vamos por partes: 2012 foi há oito meses atrás, mas está agora em análise.

«Os 5 piores melhores discos de 2012»

Sim, a lista que se segue chama-se assim mesmo «Os 5 piores piores melhores discos de 2012». Porque nem tudo o que o povo gosta é bom, porque muita coisa não passa de um hype impulsionado por magazines musicais especializados. Certo, siga: vamos colocar os dedos em algumas feridas.


5. Ekstasis, de Julia Holter 

Se há música que não consigo perceber é a música de Julia Holter. Há influências clássicas, muito trabalho de piano, mixórdias electrónicas à mistura. Mas, convenhamos, nem todo o avant-garde é necessariamente bom. Nem tudo aquilo que é uma nova ideia, tendência, etc., alberga consigo conteúdo para que lhe prestemos atenção. Pelo contrário, Ekstasis só me dá sono. (4/10)



4. For My Parents, de Mono

Os Mono são uma das bandas de post-rock do novo século com uma filosofia mais preocupada em nos incentivar à reflexão, à meditação, ao pensamento. Pelo menos assim o era até à edição de For My Parents, um dos álbuns de 2012 que mais desiludiu. Muitas ambiências, tudo muito igual, tudo muito morto, música sem vida. É tipo uma aproximação aos contornos de Sigur Rós, só que execrável. (3/10)




3. Coexist, de The XX

More like Coexzzzzzzzzist, de The XX. Tudo dito. Mas, porque é que fizeram um álbum destes depois do estrondo que foi o disco de estreia homónimo? Ideal para quando se tem sono. (3/10)





2. Shrines, de Purity Ring

Detesto Purity Ring (há pior, vá… tipo Daft Punk, sei lá), mas tive de levar com eles a fazerem a versão de uma música de um dos grandes álbuns deste ano. Breath this air, de Jon Hopkins, teve direito a uma versão cantada… pelos Purity Ring. Que nojo. Sobre o Shrines, epá, e um pouco de música? (2/10)



1 . Visions, de Grimes

A Grimes é o horror, é feia como tudo, canta mal que fode e tem um penteado ainda pior que o Justin Bieber ou que o Pablo Aimar. Levar com ela no meu feed de notícias faz-me querer desamigar as pessoas que a partilham (quase todas, diga-se), faz-me ir buscar uma faca à gaveta na cozinha e pensar que se o pessoal acha isto bom mais vale é pôr fim à vida. Está tudo dito, é o hype de 2012. (0/10)




«Os 5 melhores piores discos de 2012»

Agora o caso inverso, vamos aos cinco discos menos valorizados, e que mereciam mais reconhecimento, do ano passado quer pela imprensa especializada quer por vocês que estão agora a ler isto, seus hipsters.

5. Shields, de Grizzly Bear

Não foram poucos os fãs de Grizzly Bear que ficaram decepcionados com Shields. Mas na verdade Shields não é um mau disco, está longe de o ser. A cena é que o seu antecessor, Veckatimest, é só um dos melhores discos da freak folk que me lembro e é, também, um dos melhores álbuns da década 00-10. Depois de um disco brilhante, fazer-se um disco apenas razoavelmente bom custa a digerir. Mas e depois? Sabe sempre bem ouvir músicas como Sleeping Ute ou Yet Again. (7/10)


4. Spooky Action At a Distance, de Lotus Plaza

Lotus Plaza é um projecto paralelo de um dos membros dos Deerhunter, daí as semelhanças: há as ambiências shoegaze e quase só isso mesmo, Spooky Action At A Distance é um dos melhores discos de música ambiente do ano transacto; muito trabalho de guitarra, e não: não é só o barulho de pratos a partir. (7/10)




3. Advaitic Songs, de OM

Advaitic Songs foi um disco bastante mal recebido pela crítica especializada (exemplos: 5.tal/10 na pitchfork, 5/10 no TND), mas a verdade é que o disco comprova que a stoner / doom sem Al Cisneros jamais teria tanta elegância, tanto peso, tanta vida. Não é, nem por sombras, o melhor disco dos OM, mas é um registo que assegura a exploração de novos caminhos: há ritmos tribais e orientais. Estranho? Não, apenas delicioso (e delicioso foi também o concerto deles no OPS). (7/10)


2. Until The Quiet Comes, de Flying Lotus

O caso de Until The Quiet Comes é idêntico ao de Shields: decepção face ao antecessor. Porém, por estes lados já se teve a prova que não dá para ficar desiludido com qualquer coisa que produtor norte-americano faça. E na verdade acha-se mais qualidade em Until The Quiet Comes de que em Cosmogramma. Dúvidas? (8/10)




1 . Beyonce, de Bro-x

Muita gente que ouviu Bro-x, pronunciar-se-á «Bro-che»?, não os levou a sério. Não é para menos: letras todas fodidas, javardice inigualável, versões dos Irmãos Verdade, «Holanda, eras tudo o que eu sonhei», rimas arranjadas à queima-roupa e etc.. Isto não é música para gente conservadora, é música que se aparenta propositadamente desastrada, desequilibrada. Não vigora a velha máxima que o que é feito, por vontade própria, mal tem de ser bom; mas a verdade é que Beyonce retrata uma metáfora bem estruturada daquilo que hoje em dia vivemos: ouça-se Le Rêve, Bófia ou Maradona. E se nos quisermos ajavardar, porque não Karla Puta ou Bum Bomba (maiores êxitos do disco)? No fim temos sempre algo para dizer: «bum bomba, fodeu a merda toda // Até t’apagas». E foderam mesmo. (8/10)


«5 discos que vos passaram ao lado»

5. Estendal, de Coelho Radioactivo 


De Sérgio Godinho a B Fachada, Coelho Radioactivo cruza gerações e faz com se veja nele uma das grandes promessas da música nacional: a folk é abordada de uma maneira simples, mas eficaz. Há cantigas soberbas como Olha que tarde, Todo esse pó ou Porteiro. Existem guitarras a serem dedilhadas de uma maneira fascinante, Mensagem para ursos ou Interlúdio de Milão. Mas, acima de tudo, há a certeza que não devemos esquivar daquilo que este coelho anda a fazer. (8/10)



4. Insight, de Main Dish

Main Dish é Luís Miguel Vieira, escriba deste blog que costumam visitar todos os dias. E não, apesar de ser meu bro, não escrevo sobre Insight só porque sim. Vamos fazer de conta que nem conheço o gajo, ok. Insight é um disco fabuloso, uma viagem por espaços onde não costumamos estar no nosso dia-a-dia, um escape àquilo que é conceptual apoiando-se, para isso, naquilo que acaba por ser, dentro do género, conceptual. Estanho? Talvez aparente ser, mas é quanto mais esmiuçarmos a música do portuense que nos englobaremos dentro do mundo de Main Dish. E músicas como Cinema dinema, Northern Lights ou Dreamweavers são tão grandes… (8/10)



3. Sorry, de White Lung / The Broken Man, de Matt Elliot

Punk todo fodido com uma gaja zangada à mistura? Siga. Em primeiro lugar, o espírito punk por muito que a gente queira não vive sempre. Há certos e determinados momentos para o viver e celebrar; os White Lung sabem disso, são ferozes, animalescos, gigantes, barulhentos sem nunca pecarem pelo exagero, sem nunca se alongarem na sua missão. Sorry dura cerca de vinte minutos, tempo demasiado extenso para um pedido de desculpas, demasiado acertado para aquilo que a filosofia sónica do registo pede. (8/10)

Matt Elliot é um senhor. E está tudo dito, ouçam-no. (8/10)

2. The World Is A House On Fire, de Zelienople / Monja Mihara, de Azevedo Silva

Zelienople vive num mundo à parte de todos nós, vive num mundo turbulento e monótono, mas dizem All I Want Is Calm. Por estranho que possa parecer, a calma está sempre lá: as suas composições não passam de interligações de drones, com efeitos de vozes à mistura. A música, parecendo indirecta, é daquilo que mais directo se pode encontrar no universo das drones. Pode parecer chato (afinal as drones são chatas, não é verdade?), mas a viagem que qualquer disco seu nos proporciona é absolutamente notória. The World Is A House On Fire (na imagem) é só mais uma prova disso. (8/10)

Monja Mihara cimenta Azevedo Silva como um dos cantautores mais hábeis e capazes da música nacional. A beleza com que o lisboeta despe a língua camoniana é absolutamente apaixonante e a sua crueza sentimental é aliada às palavras de uma maneira irreversivelmente tocante. A tudo isto, um ladeamento sonoro que se assume de um modo versátil. Se das coisas tristes se fazem e nascem obras destas, porquê apelidá-las de tristes? É só Portugal. Azevedo Silva é português. E D. Sebastião ainda não morreu, quem morreu foi a saudade. E o cansaço. E o sangue. E o mar. E, lá fora, juntos dos portos, os lenços brancos ainda continuam a acenar aos barcos que partem. Pois, então, choremos todos. Somos todos portugueses. Choremos com as nossas amarguras, porque as coisas tristes nunca serão outra coisa que não tristes. (8/10)

1 . Departure Songs, de Hammock / Locked Down, de Dr. John / The Silicone Veil, de Sussane Sundfor

A abordagem electrónica que os Hammock conferem ao post-rock em qualquer um dos seus discos é notória, em Departure Songs, de longe o melhor disco da banda até à data, essa abordagem transformou-se em genial. Podia-me alongar sobre o disco, mas não quero. Quero apenas que o ouçam. (8/10)

Locked Down também é, até à data, o melhor disco de Dr. JohnBlues categórico, radicado na alma e no amor à música que só a soul nos pode dar, enquanto se palpitam tons dançáveis e incrivelmente repletos de mestria e de um aroma jazzyDr. John está para as curvas e guitarradas como as suas há muito poucas. O blues agradece esta ode do cirurgião feita com Locked Down, o blues jamais envelhecerá. (8/10)

Susanne Sundfor foi uma das melhores coisas que encontrei em 2012: a magia que impinge na sua música é transcendente. The Silicone Veil (na imagem) é um disco maioritariamente vincado pela sua vertente electrónica, mas que enfatiza as belíssimas vocais desta música norueguesa. Existem, também, bastantes influências clássicas, mas é sobretudo nos beats pujantes e em teclas saltitantes que a cantora se apoia para edificar a sua sonoridade. Basta ouvirem White Foxes ou The Silicone Veil para se aperceberem que esta é uma senhora que jamais deve ser colocada de lado e que quando os holofotes caírem sobre ela já irão sentir que não chegaram até ela a horas. (9/10) 

«Os melhores discos do ano»

10. Orelha Negra, de Orelha Negra
9. The Seer, de Swans
8. Tramp, de Sharon Van Etten
7. The Silicone Veil, de Susanne Sundford & S/T, de Neneh Cherry & The Thing
6. Attack On Memory, de Cloud Nothings / 2, de Mac Demarco
5. Pega Monstro, de Pega Monstro
4. Allelujah, don’t bend! Ascend, de Godspeed You! Black Emperor
3. BBNG2, de Badbadnotgood / Clear Moon, de Mount Eerie
2. No Love Deep Web, de Death Grips & Metz, de Metz
1. Titans, de Black Bombaim

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