2012 não foi assim há tempo quanto isso; foi um ano rico,
paletes de discos com uma qualidade assinalável (desde Beach House a Kendrick Lamar),
carradas de registos nos quais estavam depositadas expetactivas bastante
elevadas mas que depois se revelaram um
flop (The XX, Sigur Rós, Mono) ou então
simplesmente álbuns de merda. Mas vamos com calma, vamos por partes: 2012 foi
há oito meses atrás, mas está agora em análise.
«Os 5 piores melhores discos de 2012»
Sim, a lista que se segue chama-se assim mesmo «Os 5 piores
piores melhores discos de 2012». Porque nem tudo o que o povo gosta é bom,
porque muita coisa não passa de um hype
impulsionado por magazines musicais especializados. Certo, siga: vamos colocar
os dedos em algumas feridas.
Se há música que não consigo perceber é a música de Julia Holter. Há influências clássicas,
muito trabalho de piano, mixórdias electrónicas à mistura. Mas, convenhamos,
nem todo o avant-garde é necessariamente bom. Nem tudo aquilo que é uma nova
ideia, tendência, etc., alberga consigo conteúdo para que lhe prestemos
atenção. Pelo contrário, Ekstasis só
me dá sono. (4/10)
4. For My Parents,
de Mono
Os Mono são uma das bandas de post-rock do novo século com uma
filosofia mais preocupada em nos incentivar à reflexão, à meditação, ao
pensamento. Pelo menos assim o era até à edição de For My Parents, um dos álbuns de 2012 que mais desiludiu. Muitas
ambiências, tudo muito igual, tudo muito morto, música sem vida. É tipo uma
aproximação aos contornos de Sigur Rós, só que execrável. (3/10)
3. Coexist, de The
XX
More like
Coexzzzzzzzzist, de The
XX. Tudo dito. Mas, porque é que fizeram um álbum destes depois do
estrondo que foi o disco de estreia homónimo? Ideal para quando se tem sono.
(3/10)
2. Shrines, de Purity
Ring
Detesto Purity Ring (há pior, vá… tipo Daft
Punk, sei lá), mas tive de levar com eles a fazerem a versão de uma
música de um dos grandes álbuns deste ano. Breath
this air, de Jon Hopkins, teve
direito a uma versão cantada… pelos Purity Ring. Que nojo. Sobre o Shrines, epá, e um pouco de música?
(2/10)
A Grimes é o
horror, é feia como tudo, canta mal que fode e tem um penteado ainda pior que o
Justin Bieber ou que o Pablo Aimar. Levar com ela no meu feed de notícias faz-me querer desamigar
as pessoas que a partilham (quase todas, diga-se), faz-me ir buscar uma faca à
gaveta na cozinha e pensar que se o pessoal acha isto bom mais vale é pôr fim à
vida. Está tudo dito, é o hype de 2012. (0/10)
«Os 5 melhores piores discos de 2012»
Agora o caso inverso, vamos aos cinco discos menos
valorizados, e que mereciam mais reconhecimento, do ano passado quer pela
imprensa especializada quer por vocês que estão agora a ler isto, seus hipsters.
Não foram poucos os fãs de Grizzly Bear que ficaram
decepcionados com Shields. Mas na
verdade Shields não é um mau disco,
está longe de o ser. A cena é que o seu antecessor, Veckatimest, é só um dos melhores discos da freak folk que me lembro e é, também, um dos melhores álbuns da
década 00-10. Depois de um disco brilhante, fazer-se um disco apenas
razoavelmente bom custa a digerir. Mas e depois? Sabe sempre bem ouvir músicas
como Sleeping Ute ou Yet Again. (7/10)
Lotus Plaza é um projecto paralelo de um dos membros dos Deerhunter,
daí as semelhanças: há as ambiências shoegaze
e quase só isso mesmo, Spooky Action At A
Distance é um dos melhores discos de música ambiente do ano transacto;
muito trabalho de guitarra, e não: não é só o barulho de pratos a partir.
(7/10)
Advaitic Songs foi um disco bastante mal recebido
pela crítica especializada (exemplos: 5.tal/10 na pitchfork, 5/10 no TND),
mas a verdade é que o disco comprova que a stoner
/ doom sem Al Cisneros jamais teria
tanta elegância, tanto peso, tanta vida. Não é, nem por sombras, o melhor disco
dos OM,
mas é um registo que assegura a exploração de novos caminhos: há ritmos tribais
e orientais. Estranho? Não, apenas delicioso (e delicioso foi também o concerto
deles no OPS). (7/10)
O caso de Until The
Quiet Comes é idêntico ao de Shields:
decepção face ao antecessor. Porém, por estes lados já se teve a prova que não
dá para ficar desiludido com qualquer coisa que produtor norte-americano faça.
E na verdade acha-se mais qualidade em Until
The Quiet Comes de que em Cosmogramma.
Dúvidas? (8/10)
1 . Beyonce, de Bro-x
Muita gente que ouviu Bro-x, pronunciar-se-á «Bro-che»?,
não os levou a sério. Não é para menos: letras todas fodidas, javardice
inigualável, versões dos Irmãos Verdade, «Holanda, eras tudo o que eu sonhei»,
rimas arranjadas à queima-roupa e etc.. Isto não é música para gente
conservadora, é música que se aparenta propositadamente desastrada,
desequilibrada. Não vigora a velha máxima que o que é feito, por vontade
própria, mal tem de ser bom; mas a verdade é que Beyonce retrata uma metáfora bem estruturada daquilo que hoje em
dia vivemos: ouça-se Le Rêve, Bófia ou Maradona. E se nos quisermos ajavardar, porque não Karla Puta ou Bum Bomba (maiores êxitos do disco)? No fim temos sempre algo para
dizer: «bum bomba, fodeu a merda toda //
Até t’apagas». E foderam mesmo. (8/10)
«5 discos que vos passaram ao lado»
De Sérgio Godinho
a B Fachada, Coelho Radioactivo cruza gerações e faz com se veja nele uma das
grandes promessas da música nacional: a folk
é abordada de uma maneira simples, mas eficaz. Há cantigas soberbas como Olha que tarde, Todo esse pó ou Porteiro.
Existem guitarras a serem dedilhadas de uma maneira fascinante, Mensagem para ursos ou Interlúdio de Milão. Mas, acima de tudo,
há a certeza que não devemos esquivar daquilo que este coelho anda a fazer.
(8/10)
4. Insight, de Main
Dish
Main Dish é Luís Miguel Vieira, escriba deste blog que costumam
visitar todos os dias. E não, apesar de ser meu bro, não escrevo sobre Insight só porque sim. Vamos fazer de
conta que nem conheço o gajo, ok. Insight é um disco fabuloso, uma viagem por
espaços onde não costumamos estar no nosso dia-a-dia, um escape àquilo que é
conceptual apoiando-se, para isso, naquilo que acaba por ser, dentro do género,
conceptual. Estanho? Talvez aparente ser, mas é quanto mais esmiuçarmos a
música do portuense que nos englobaremos dentro do mundo de Main
Dish. E músicas como Cinema
dinema, Northern Lights ou Dreamweavers são tão grandes… (8/10)
Punk todo fodido com uma gaja zangada à
mistura? Siga. Em primeiro lugar, o espírito punk por muito que a gente queira não vive sempre. Há certos e
determinados momentos para o viver e celebrar; os White Lung sabem disso,
são ferozes, animalescos, gigantes, barulhentos sem nunca pecarem pelo exagero,
sem nunca se alongarem na sua missão. Sorry
dura cerca de vinte minutos, tempo demasiado extenso para um pedido de
desculpas, demasiado acertado para aquilo que a filosofia sónica do registo
pede. (8/10)
Matt Elliot é um senhor. E está tudo dito,
ouçam-no. (8/10)
Zelienople vive num mundo à parte de todos nós, vive num mundo
turbulento e monótono, mas dizem All I
Want Is Calm. Por estranho que possa parecer, a calma está sempre lá: as
suas composições não passam de interligações de drones, com efeitos de vozes à mistura. A música, parecendo
indirecta, é daquilo que mais directo se pode encontrar no universo das drones. Pode parecer chato (afinal as
drones são chatas, não é verdade?), mas a viagem que qualquer disco seu nos
proporciona é absolutamente notória. The
World Is A House On Fire (na imagem) é só mais uma prova disso. (8/10)
Monja Mihara cimenta Azevedo Silva como
um dos cantautores mais hábeis e capazes da música nacional. A beleza com que o
lisboeta despe a língua camoniana é absolutamente apaixonante e a sua crueza
sentimental é aliada às palavras de uma maneira irreversivelmente tocante. A
tudo isto, um ladeamento sonoro que se assume de um modo versátil. Se das
coisas tristes se fazem e nascem obras destas, porquê apelidá-las de tristes? É
só Portugal. Azevedo Silva é português.
E D. Sebastião ainda não morreu, quem morreu foi a saudade. E o cansaço. E o sangue.
E o mar. E, lá fora, juntos dos portos, os lenços brancos ainda continuam a
acenar aos barcos que partem. Pois, então, choremos todos. Somos todos
portugueses. Choremos com as nossas amarguras, porque as coisas tristes nunca
serão outra coisa que não tristes. (8/10)
1 . Departure Songs,
de Hammock
/ Locked Down, de Dr. John / The Silicone Veil, de Sussane
Sundfor
A abordagem electrónica que os Hammock conferem ao post-rock em qualquer um dos seus discos é notória, em Departure Songs, de longe o melhor disco da banda até à data, essa abordagem transformou-se em genial. Podia-me alongar sobre o disco, mas não quero. Quero apenas que o ouçam. (8/10)
Locked Down também é, até à data, o melhor disco de Dr. John. Blues categórico, radicado na alma e no amor à música que só a soul nos pode dar, enquanto se palpitam tons dançáveis e incrivelmente repletos de mestria e de um aroma jazzy. Dr. John está para as curvas e guitarradas como as suas há muito poucas. O blues agradece esta ode do cirurgião feita com Locked Down, o blues jamais envelhecerá. (8/10)
Susanne Sundfor foi uma das melhores coisas que encontrei em 2012: a magia que impinge na sua música é transcendente. The Silicone Veil (na imagem) é um disco maioritariamente vincado pela sua vertente electrónica, mas que enfatiza as belíssimas vocais desta música norueguesa. Existem, também, bastantes influências clássicas, mas é sobretudo nos beats pujantes e em teclas saltitantes que a cantora se apoia para edificar a sua sonoridade. Basta ouvirem White Foxes ou The Silicone Veil para se aperceberem que esta é uma senhora que jamais deve ser colocada de lado e que quando os holofotes caírem sobre ela já irão sentir que não chegaram até ela a horas. (9/10)
«Os melhores discos do ano»
10. Orelha Negra,
de Orelha
Negra
9. The Seer, de Swans
8. Tramp, de Sharon
Van Etten
7. The Silicone Veil,
de Susanne Sundford & S/T, de Neneh Cherry & The Thing
6. Attack On Memory,
de Cloud
Nothings / 2, de Mac
Demarco
5. Pega Monstro, de
Pega
Monstro
4. Allelujah, don’t
bend! Ascend, de Godspeed You! Black Emperor
3. BBNG2, de Badbadnotgood
/ Clear Moon, de Mount
Eerie
2. No Love Deep Web,
de Death
Grips & Metz, de Metz
1. Titans, de Black
Bombaim
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