3.21.2013

Youth Lagoon - Wondrous Bughouse



2012 foi um ano simpático em termos musicais. Assistimos ao ressuscitar de uns Godspeed You! Black Emperor em estúdio, assistimos ao nascimento de um trio frenético apaixonado pelo barulho, os Metz, e assistimos, também, ao brinca-na-areia de uns putos de vinte anos que se agarram a nomes já grandes e brincam com eles para edificarem hip-hop instrumental/experimental/avant-gard. Então mas o objectivo não era fazer uma análise ao novo disco de Youth Lagoon? Era. Isto serve apenas para dizer que Wondrous Bughouse é melhor que setenta e três discos de 2012 juntos. Poderá parecer hipérbole. E, na verdade, é uma hipérbole. Mas quando se fala em amor, todos falamos por exagero e todas as palavras/cartas de amor são ridículas. Não me consigo esquivar à regra.

Mas vamos ao ponto de partida: o ponto de partida foi dado em 2011 com The Year Of Hibernation. O hype foi imediato, mas a verdade é que nesse registo não via nada que me fizesse querer ficar ali. Naquilo. Descartei-o à primeira audição e mentalizei-me que, lolada, Youth Lagoon era mais um daqueles hypes escandalosos criados pela gigante pitchfork, essa mesmo que controla setenta e cinco vírgula nove por cento, calculando assim de cabeça, aquilo que as gentes que se dizem alternativas ouvem. Certo. Mas prossigamos.



Era tarde, tarde chuvosa e a apatia imperava pela cabeça. Pensava “lol, estudar”, porque não estava em época de exames. Pensava “lol, ver televisão”, porque a essa hora estava a dar o programa da Leonor Poeiras ou o caralho. Pensava em bué cenas, mas estava bué naquela de não fazer nenhum. Foi aí no meio de não querer fazer nenhum e de ter visto qualquer merda a anunciar que Youth Lagoon tinha um álbum novo que pensei “epá, e se fosse ouvir o álbum deste gajo para depois dizer mal dele nos posts do facebook que me aparecessem no feed de notícias com músicas dele?”. Pensado e feito, o que é raro de acontecer na minha vida.

Tudo começou com Through Mind And Back. Senti ali mais burburinho e não uma cena tão aconchegante quanto aquilo que está patente em The Year Of Hibernation. Senti mais barulho. E gosto de sentir barulho. A produção do disco disse-me olá, eu retribui-lhe. Parecia que o quarto, outrora lugar de eleição para Youth Lagoon, bem aprisionado ao seu berço, produzir os seus discos, deu lugar a uma explosão vulcânica. Se há dois anos atrás se deambulava pela estética de um som mais propício a atrair gentes que se reviam no começar do luzir do sol, com as sete da manhã a despertarem o canto da fauna voadora e a anunciarem o começo do dia, agora, em pleno 2013, ano que se espera grande, não se deambula sequer. Não existe espaço para isso. Não existem vazios sonoros; existem preenchimentos máximos, carimbados eximiamente pela produção fenomenal. Existem momentos, e não nos deixemos enganar: é nos momentos que Wondrous Bughouse mais se revela avassalador e belo. É na segunda faixa do registo, e ao instante 2:57, que tudo começa. O ruído nasce. É aí, claramente, que Youth Lagoon mais se esquiva da maneira como ladeou o seu disco de estreia. Não existe uma simples maturação, existe, sobretudo, uma modificação. O cantar dos passarinhos quando batem as sete da manhã passa ao lado, o berço foi abandonado; as paisagens que inspiraram e criaram Wondrous Bughouse são distintas, menos aconchegantes e mais dinâmicas. Agora já não sete da manhã e já não se está na cama a ouvir os passarinhos, agora são sete da tarde. E os passarinhos abandonaram a cidade.

Wondrous Bughouse é rico em texturas: a vertente dreamy é uma constante ao longo do registo, mas o que mais se vinca na sonoridade de Youth Lagoon é o perfil estritamente glo-fi que imprime nas suas composições, bem carimbado pelo uso e abuso de sintetizadores e da arquitectação ininterrupta de loops – que, convenhamos, tornam toda as suas músicas hipnóticas (Olá, Attic Doctor). Mas lol, não adianta estar aqui com merdas bonitas que ninguém vai ler, basta apenas dizer que a estética instrumental deste álbum está do caralho.

Em compêndio, não posso dizer outra coisa que não: Wondrous Bughouse é um dos discos mais vibrantes, hipnotizantes e apaixonantes que já ouvi. A beleza das músicas é imediata e é facílimo que a música deste jovem se vista nos nossos ouvidos e de lá não se queira desnudar. Aqui não há espaço para imperfeições. Nem para vazios sonoros. O corpo é robusto e espalha-se de uma forma inesgotável pelos nossos ouvidos. Tudo isto poderá parecer um exercício hiperbólico, mas quando nos apaixonamos por uma coisa o que é que se esquiva de, a olhos alheios, soar a exagero? Exacto.

Nota final: 9.7/10 (MA)
Emanuel Graça
 

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