2012 foi um ano simpático em termos musicais. Assistimos ao
ressuscitar de uns Godspeed You! Black Emperor em estúdio, assistimos ao
nascimento de um trio frenético apaixonado pelo barulho, os Metz,
e assistimos, também, ao brinca-na-areia de uns putos de vinte anos que se
agarram a nomes já grandes e brincam com eles para edificarem hip-hop instrumental/experimental/avant-gard.
Então mas o objectivo não era fazer uma análise ao novo disco de Youth
Lagoon? Era. Isto serve apenas para dizer que Wondrous Bughouse é
melhor que setenta e três discos de 2012 juntos. Poderá parecer hipérbole. E,
na verdade, é uma hipérbole. Mas quando se fala em amor, todos falamos por
exagero e todas as palavras/cartas de amor são ridículas. Não me consigo
esquivar à regra.
Mas vamos ao ponto de partida: o ponto de partida foi dado em
2011 com The Year Of Hibernation. O hype
foi imediato, mas a verdade é que nesse registo não via nada que me fizesse
querer ficar ali. Naquilo. Descartei-o à primeira audição e mentalizei-me que,
lolada, Youth Lagoon era mais um daqueles hypes escandalosos criados pela gigante pitchfork, essa mesmo que controla setenta e cinco vírgula nove
por cento, calculando assim de cabeça, aquilo que as gentes que se dizem
alternativas ouvem. Certo. Mas prossigamos.
Era tarde, tarde chuvosa e a apatia imperava pela cabeça.
Pensava “lol, estudar”, porque não
estava em época de exames. Pensava “lol,
ver televisão”, porque a essa hora estava a dar o programa da Leonor
Poeiras ou o caralho. Pensava em bué cenas, mas estava bué naquela de não fazer
nenhum. Foi aí no meio de não querer fazer nenhum e de ter visto qualquer merda
a anunciar que Youth Lagoon tinha um álbum novo que pensei “epá, e se fosse ouvir o álbum deste gajo
para depois dizer mal dele nos posts do facebook que me aparecessem no feed de
notícias com músicas dele?”. Pensado e feito, o que é raro de acontecer na
minha vida.
Tudo começou com Through
Mind And Back. Senti ali mais burburinho e não uma cena tão aconchegante
quanto aquilo que está patente em The Year Of Hibernation. Senti mais
barulho. E gosto de sentir barulho. A produção do disco disse-me olá, eu retribui-lhe. Parecia que o
quarto, outrora lugar de eleição para Youth Lagoon, bem aprisionado ao seu
berço, produzir os seus discos, deu lugar a uma explosão vulcânica. Se há dois
anos atrás se deambulava pela estética de um som mais propício a atrair gentes
que se reviam no começar do luzir do sol, com as sete da manhã a despertarem o
canto da fauna voadora e a anunciarem o começo do dia, agora, em pleno 2013,
ano que se espera grande, não se deambula sequer. Não existe espaço para isso.
Não existem vazios sonoros; existem preenchimentos máximos, carimbados
eximiamente pela produção fenomenal. Existem momentos, e não nos deixemos
enganar: é nos momentos que Wondrous Bughouse mais se revela
avassalador e belo. É na segunda faixa do registo, e ao instante 2:57, que tudo
começa. O ruído nasce. É aí, claramente, que Youth Lagoon mais se
esquiva da maneira como ladeou o seu disco de estreia. Não existe uma simples
maturação, existe, sobretudo, uma modificação. O cantar dos passarinhos quando
batem as sete da manhã passa ao lado, o berço foi abandonado; as paisagens que
inspiraram e criaram Wondrous Bughouse são distintas,
menos aconchegantes e mais dinâmicas. Agora já não sete da manhã e já não se
está na cama a ouvir os passarinhos, agora são sete da tarde. E os passarinhos
abandonaram a cidade.
Wondrous Bughouse é rico em texturas: a vertente dreamy é uma constante ao longo do registo, mas o que mais se vinca
na sonoridade de Youth Lagoon é o perfil estritamente glo-fi que imprime nas suas composições, bem carimbado pelo uso e
abuso de sintetizadores e da arquitectação ininterrupta de loops – que, convenhamos, tornam toda as suas músicas hipnóticas
(Olá, Attic Doctor). Mas lol, não
adianta estar aqui com merdas bonitas que ninguém vai ler, basta apenas dizer
que a estética instrumental deste álbum está do caralho.
Em compêndio, não posso dizer outra coisa que não: Wondrous
Bughouse é um dos discos mais vibrantes, hipnotizantes e apaixonantes
que já ouvi. A beleza das músicas é imediata e é facílimo que a música deste
jovem se vista nos nossos ouvidos e de lá não se queira desnudar. Aqui não há
espaço para imperfeições. Nem para vazios sonoros. O corpo é robusto e
espalha-se de uma forma inesgotável pelos nossos ouvidos. Tudo isto poderá
parecer um exercício hiperbólico, mas quando nos apaixonamos por uma coisa o
que é que se esquiva de, a olhos alheios, soar a exagero? Exacto.
Nota final: 9.7/10 (MA)
Emanuel Graça
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